Primeiro dia da 27ª Feira Pan-Amazônica do Livro e das Multivozes é dedicado à COP 30
Programação abordou as questões climáticas e a COP na Amazônia
Em Belém, a 27ª edição da Feira Pan-Amazônica do Livro foi aberta oficialmente, neste sábado (17), para dar espaço para diversas vozes da Amazônia. No primeiro dia do evento, no Hangar – Centro de Convenções, as “vozes do clima” ocuparam o palco principal, com programações dedicadas a debater as mudanças climáticas, os impactos à população da Amazônia e a importância da realização da COP 30 em Belém, em novembro de 2025. A visitação no Hangar ocorre sempre, das 9h às 21h, e a entrada para a Feira é gratuita.
A secretária de cultura Úrsula Vidal reiterou que a programação da feira, com debates e painéis, respeita e reflete a cultura e a tradição de repasse e acúmulo de conhecimentos da região Norte. “Nós estamos numa região onde a oralidade é muito importante. O processo de transmissão do conhecimento se dá para todas comunidades tradicionais, por meio desses saberes que são transmitidos de geração em geração. E as nossas urbanidades amazônicas têm discutido a questão do racismo ambiental, da justiça climática, principalmente pelas juventudes dessas urbanidades. Através do hip hop, do grafite… então nós temos uma feira amazônica que é do livro, esse produto cultural, mas também dessas vozes que discutem as disciplinas do meio ambiente. Hoje a primeira voz são as vozes clima, e estamos discutindo exatamente isso: qual o protagonismo da Amazônia, um bioma tão importante, mas também de pessoas para esse essa nova governança global que precisa ser abraçada verdadeiramente pelos países”.
A secretária Ursula Vidal pondera que o compromisso com a causa ambiental pode se intensificar com a realização do evento em Belém, já que os líderes mundiais poderão viver um pouco da experiência amazônica. “A gente passa de COP em COP, faz protocolo, assume compromisso e não consegue dar uma solução para o planeta. Então está COP na Amazônia, onde milhares de pessoas vão entender a nossa relação com os rios, com os nossos saberes, com a nossa musicalidade, que é baseada nesses saberes, na relação com a natureza, vão entender porque que a natureza é tão importante. Ela não é um lugar lá que eu preciso usar, ela é um modo de vida, ela é a forma como as pessoas vivem. Então pra além de todos os protocolos, de todos os documentos, as pessoas vão fazer uma imersão durante a COP, e a Feira do Livro já está trazendo esse debate”, afirmou Ursula.
Durante o painel “O clima do amanhã: o que pensam os jovens?”, a arena Multivozes ficou repleta de pessoas dispostas a se questionar sobre o futuro do planeta. O painel foi formado por três jovens: a mediadora Roberta Sodré, professora e ativista do Cedenpa/COP das Baixadas, a ativista Kimberly Silva, do Palmares Lab Ação, e Ana Rosa, do grupo de trabalho Engajamundo.
O encontro dessas três mulheres permitiu refletir sobre a necessidade do jovem, especialmente o morador de terrenos periféricos, participar do debate climático.
“Eu agradeço à Secretaria de Cultura do Estado do Pará pela oportunidade da gente estar conseguindo trazer jovens que estão engajados e que são lideranças dentro do nosso território e que refletem muito do que é o nosso debate, a nossa preocupação com o clima nesse momento. Estar aqui na 27ª Feira Pan-Amazônica do Livro e das multivozes, pensando o clima com pessoas que residem na Amazônia e que querem fazer da Amazônia um lugar melhor, é justamente o que a gente tem como perspectiva de futuro”, disse Roberta Sodré, ativista climática do COP das Baixadas e mediadora do evento.
O professor Marcos Mendes acompanhou o debate, e ressalta a importância do jovem ter um espaço como o da feira do livro para se informar sobre questões da atualidade. “É super necessário o jovem compreender o processo, o papel dele na luta pelos direitos ambientais não só pela questão da luta, mas pela própria qualidade de vida, pela busca da qualidade de vida duradoura nos rincões aqui nessa região. É o jovem lutando pelo futuro dele, então necessário que ele compreenda o processo como inteiro, por isso, é extremamente necessário e importante ter este espaço porque mesmo que a juventude não tenha essa iniciativa de busca a informação, ao estar aqui nesse espaço eles se veem interessados e integrados para participar da discussão” avalia.
Para Roberta Sodré, o jovem precisa entender a urgência da luta climática para assegurar o seu futuro. “A gente precisa estar se movimentando para constituir uma Amazônia liderada por juventudes que estão envolvidas com esse assunto não só nesse período pré-COP, mas como um assunto que se estenda como uma pauta necessária”, conclui a ativista.
Um espaço para as crianças
Além dos debates voltados para jovens, a feira do livro levou a discussão ambiental para as crianças de forma lúdica através do sarau “Clima, cidadania e cultura Amazônica”, onde artistas da Trupe Teia fizeram uma apresentação teatral interativa em que as crianças puderam dar a receita para a construção de um novo mundo onde a natureza fosse respeitada.
“A gente acredita que as crianças na verdade é que têm esse poder, essa capacidade de transformar o mundo que a gente tá vivendo ou, como a gente propõe na apresentação, construir um mundo novo”, disse a atriz Alana Lima.
A menina Iara Manoela Palheta, de 7 anos, entendeu o recado e já tem a receita para um mundo melhor: “O mundo esta precisando de casas pra todo mundo, mais árvores e muita alegria, especialmente alegria e árvore. Precisamos de muitas árvores, e também temos que proteger a Amazônia e não maltratar os bichinhos”, destaca.
A feira do livro também trouxe uma reflexão sobre o impacto do lixo na nossa sociedade. Durante o painel “Resíduos e Reinvenções: alternativas para o manejo do lixo na Amazônia” mediado pela educadora social e ativista Tayna Silva com a participação da turismolóloga Prazeres Quaresma e da arte-educadora Silvana Palha o público foi convidado a reavaliar sua relação com o lixo, abordando temas como o consumo consciente, o controle de resíduos, o reaproveitamento de materiais, o descarte consciente e a busca por soluções sustentáveis na sociedade contemporânea.
“Não existe ‘jogar fora’, todo lixo que produzirmos é jogado dentro do planeta. Comece a pensar o planeta como sua mãe e cuide bem dele”, alerta Silvana Palha.
“Num lugar como esse, como a Feira Multivozes, é extremamente fundamental termos essa discussão porque o livro, a literatura e o livro como um todo, ele multiplica essas vozes, ele tem condição de levar essas vozes até a sala de aula, os debates públicos, as instruções, as pessoas, o registro, dessas vozes promovem reflexões. Esse lugar da literatura é o lugar onde a gente tem a oportunidade de trazer para a sociedade os nossos territórios imateriais, que são tão preciosos quanto os territórios materiais, que são nossas visões de mundo, nosso pensamento, nossos sonhos, nossos desejos em relação às gerações futuras, em relação à humanidade como um todo”, concluiu.
Sobre o futuro da humanidade, poeta Márcia Kambeba ressaltou a necessidsde de respeitar o tempo do clima e ouvir a voz da natureza. “Nada está no planeta sem sua razão de existir, desde a formiga mais pequena, e cada um tem seu espirito. Repassar, a partir da literatura, esses conceitoa para quem nos lê é um convite a compreender a vida com o olhar da ancestralidade, e nao de um mundo acelerado comandado pelo relógio”, disse.
Fonte: Agência Pará