Projeto reforça prevenção à malária em comunidades às margens do rio Trombetas
Quando os meses de maio e junho batem à porta, Márcio Nascimento, da comunidade Boa Vista, do município de Oriximiná, no oeste do Pará, já sabe que a equipe de sanitização do Projeto de Combate à Malária também está chegando. “Sempre tenho aberto as portas, porque sei que ajuda muito a nos proteger de uma doença que pode matar”, afirma o almoxarife. A iniciativa é desenvolvida pela Mineração Rio do Norte (MRN) e conta com o apoio da Secretaria de Saúde do município.
“Durante o mês de maio fazemos a primeira etapa da campanha e retornamos durante o mês de outubro. Com o período chuvoso, os mosquitos passam a procurar locais para se abrigar. Por isso, conversamos com os comunitários sobre a necessidade tanto da borrifação quanto do fumacê”, explica Luanne Gato, técnica em saneamento do projeto. Vivendo no Boa Vista desde 2006, Márcio conta que, durante esse período, já deixa a família ciente da necessidade de receber a equipe. “Quando posso, também tenho conversado com os vizinhos próximos sobre essa importância”, relata.
Dividido em duas etapas, o projeto, desenvolvido em 21 comunidades quilombolas e ribeirinhas e em duas aldeias indígenas, faz parte do Programa de Educação Socioambiental (PES) da MRN, promovendo ações preventivas por meio da borrifação de inseticida no interior das residências, inspeção embaixo dos assoalhos e pulverização de fumacê à noite.
Transmitida por meio da picada de mosquitos infectados por protozoários do gênero Plasmodium, a malária é uma doença infecciosa que pode causar quadros de febre alta, calafrios, dores de cabeça e até a morte. Os mosquitos vetores da doença costumam aparecer durante o nascer e o pôr do sol, mas agem, principalmente, à noite. De acordo com o Ministério da Saúde (MS), a região amazônica concentra 99% dos casos no país. Ainda não há vacina disponível contra a doença no Brasil. Por isso, a principal forma de prevenção são as medidas sanitárias.
A dona de casa Maria de Fátima sabe bem dessa necessidade. Há 21 anos vivendo na comunidade Moura, lembra quando ela e um dos quatros filhos tiveram a doença. “Eu sentia muito frio, dores de cabeça e no corpo. Quando fizeram a lâmina, disseram que era malária. Fiquei bastante abalada porque demorei quatro dias para procurar o médico”, relata a comunitária, que também não mede esforços para abrir as portas à equipe de saúde. “Eu sempre digo ‘eles não vêm trazer só borrifação, mas prevenção`, porque a gente sabe que todo ano a malária aparece”.
O Projeto de Combate à Malária nasceu em 1999, em um período de grande incidência da doença, quando foram registrados 1.126 casos na região. Em menos de dez anos de projeto, o registro caiu para 27 casos, representando uma redução de 97,6% nas incidências. A depender de fatores sazonais, o número de novos casos pode variar. Por conta disso, a MRN tem desenvolvido ações que visam controlar o mosquito transmissor da malária, bem como ações educativas para conscientizar os moradores quanto à maneira correta de se prevenir, com orientações como não deixar água parada, manter limpos os arredores da casa, permitir que a equipe faça a borrifação no seu imóvel e, em caso de sintomas da doença, como febre alta, tremores, sudorese e dor de cabeça, procurar um posto ou um agente de saúde.
“Essa campanha e as ações educativas são realizadas pela MRN. Já os exames e tratamentos são feitos pelo município e pelo Hospital de Porto Trombetas (HPTR). Nesse caso, eles nos enviam as notificações, nós identificamos as comunidades afetadas e nos dirigimos até elas”, explica o coordenador do projeto, Edmundo Barbosa, que também lembra o papel dos moradores na mobilização. “São eles que vão garantir que o mosquito não se procrie. Se os moradores tomarem as medidas preventivas, a doença estará sempre em controle em nossa região”, explica.
“Eu acho muito importante esse projeto porque o carapanã da malária precisa ser borrifado. Ele existe, mas como são vários tipos, não sabemos qual é. Por isso que todo o tempo que a equipe vem eu faço questão que eles venham borrifar aqui também”, ressalta a dona de casa Maria de Fátima.
Fonte: Temple Comunicação
Por Henrique Britto/Temple Comunicação