Dra. Carolina Beckman fala sobre a medicina integrativa focada em alimentação e exercícios. Ela comenta sobre o lançamento do seu livro. Veja o que ela diz
O Portal Guarany Júnior entrevista, neste domingo, 4/9, a médica Carolina Beckman Oti (CRM PA 8709- RQE 2750), membro titular CBC, membro SBCBM e que lançou, recentemente, seu livro.
Leia, na íntegra, a entrevista.
1. O que é obesidade? Como identificar e classificar esta doença ?
R – Obesidade é uma doença crônica, CID-10: E66, caracterizada por excesso de gordura no organismo. É considerado obeso o indivíduo com IMC (índice de massa corporal) maior ou igual a 30. Mas o que é o IMC? IMC significa “índice de massa corporal”. IMC abaixo de 18,5 significa baixo peso. IMC 18,5-24,9 significa peso normal. IMC 25-29,9 é sobrepeso. IMC 30-34,9: obesidade grau 1. IMC 35-39,9 é obesidade grau 2. IMC acima de 40 é obesidade mórbida.
2. Quais outras doenças podem vir associadas à obesidade ? (As que são chamadas comorbidades)
R – Comorbidades relacionadas a alterações metabólicas decorrentes do excesso de gordura corporal: Síndrome metabólica; Hipertensão arterial sistêmica, Diabetes Melittus tipo 2, esteatose hepática (gordura no fígado) , Síndrome dos ovários policísticos, Infertilidade, doenças articulares (artropatias), Apneia Obstrutiva do Sono, Refluxo Gastroesofágico e outras.
3. Quais os tratamentos para a obesidade? E quando operar ?
R – Existem tratamentos clínicos e tratamentos cirúrgicos. Os tratamentos cirúrgicos são indicados quando o tratamento clínico não traz os resultados esperados. Principalmente para IMC acima de 40 , ou IMC acima de 35 com comorbidades.
A indicação de cirurgia acontece quando o tratamento clínico não gerar os resultados esperados ou quando houver intolerância às medicações para emagrecer e for de comum acordo entre o paciente e a equipe multidisciplinar.
4. O que você acha que contribui para o aumento da obesidade no mundo?
R – Com certeza a grande oferta de produtos alimentícios processados e ultraprocessados, associado ao estresse da vida moderna que leva ao sedentarismo. Além do excesso de trabalho com tecnologia até altas horas da noite em celulares e computadores , o que leva ao distúrbio do sono, alterando o nosso ritmo circadiano e levando à muito mais compulsão alimentar e resistência à insulina .
5. Quais os tipos de cirurgia e qual a mais indicada para cada caso? E qual o caminho até a cirurgia ?
R – Existem cirurgias para quem costuma comer em grandes quantidades, que são as cirurgias restritivas, nas quais preocupa-se em diminuir o volume (tamanho) do estômago. Existem cirurgias para quem tem problemas metabólicos exemplo: diabetes, síndrome metabólica – (colesterol e triglicérides alterados, cintura maior que o quadril, e resistência à insulina), em que preocupa-se mais com o desvio intestinal. Para aqueles pacientes que preferem doces e carboidratos, pode-se combinar técnicas de redução de estômago com as de desvio intestinal. De qualquer forma, é necessária uma avaliação de cada paciente para se decidir o tipo de cirurgia adequado. As cirurgias devem estar validadas pelo CRM e as mais utilizadas no Brasil são : sleeve, by-pass e duodenal switch.
O paciente passa por uma primeira consulta de triagem, podendo esta ser presencial ou on line (conforme liberação do CFM devido a pandemia do COVID-19), na qual são solicitados exames e avaliações com especialistas (nutricionista, nutrólogo, endocrinologista, pneumologista, cardiologista, psicólogo, anestesista). Quando os exames e avaliações solicitados estiverem prontos, o paciente retorna ao cirurgião e será avaliado se deve fazer algum tratamento prévio ou se existe algum problema que inviabilize a cirurgia. Se estiver tudo normal, os pacientes são encaminhados para a marcação de cirurgia, é feito um pedido de cirurgia e encaminhado para o convênio.
No SUS, do estado do Pará, temos o programa Obesidade Zero, onde o paciente se cadastra on line, comparece às consultas com a equipe multidisciplinar e é encaminhado para a cirurgia no Hospital Jean Bittar .
6. É possível evitar uma cirurgia apenas com mudanças de hábitos?
R – Possível, é sim mas os estudos mostram que apenas 10% dos pacientes que tratam obesidade a partir do grau II com tratamento clínico (dieta, atividade física, estilo de vida, medicamentos), apenas esses 10% não reganham o peso após 2 anos. Afinal, é uma doença crônica que tem fatores genéticos muito presentes, e muitas vezes, na correria o dia a dia a pessoa vai se cansando dessa “rotina” mais saudável, portanto, é preciso uma mudança de mentalidade, acompanhamento com psicoterapia, nutricionista, nutrólogo, endócrino eternamente também.
7. Você trabalha com a medicina 4.0 que é uma medicina integrativa, focada em mindfullness e que dá especial atenção à prevenção, ou seja, focada em alimentação e exercícios, e em suas redes sociais, dá dicas práticas de como evitar e tratar a obesidade. Conta pra gente como é essa abordagem.
R – É uma abordagem baseada em dezenas de cursos pelo Brasil, onde eu criei um método de atendimento que engloba o indivíduo integralmente: ajustes na alimentação, melhora da performance nos treinos, tratamento das patologias gastrointestinais (meu lado cirurgiã do aparelho digestivo), modulação do sono, reposição hormonal bem indicada, suplementação, melhora da imunidade e mindset. São mais de 5.000 pacientes atendidos nesse método, e dele saiu um curso on line, onde posso ampliar essa abordagem pra muito mais pessoas pelo estado do Pará e pelo Brasil.
8. Você lançou um livro recentemente com o título “Surte ao menos uma vez”. Qual a relação desse livro com o seu trabalho na área da saúde e qual a mensagem principal deste livro com um título tão provocador ?
R – Nesse livro eu abordo um problema de saúde mental muito recorrente no médico: o burnout, uma síndrome (conjunto de sinais e sintomas) de esgotamento profissional, muitas horas de trabalho mal remuneradas, privação de sono para produzir cada vez mais, associados aos nossos medos pessoais, acabamos nos afastando da família para priorizar o trabalho, temos crises de ansiedade, choro e pânico, etc. Passei por isso em janeiro de 2020 e não gostaria que os colegas de classe sofressem como eu.
Acabei descobrindo uma nova forma de ser multireceitas, me reinventar na profissão, entrar no digital, escrevi o livro, me tornei uma palestrante em eventos nacionais ao lado de grandes empresários e até bilionários, decidi empreender em negócios de tecnologia, uma start up de telemedicina, deixei de atender volume em planos de saúde, aumentei a minha espiritualidade, enfim foi um divisor de águas na minha vida. Recomendo a leitura.
Referências sobre cirurgia bariátrica para a população, acessar:
https://www.sbcbm.org.br/consenso/
Fonte: Assessoria por Michelly Murchio