Oncologista Paula Sampaio comenta sobre a campanha Julho Verde
O Instituto Nacional do Câncer (Inca) estima para este ano 36.620 novos registros de câncer de cabeça e pescoço no Brasil. Sexto tipo de neoplasia mais incidente no mundo, esse tipo de câncer engloba tumores da cavidade oral, faringe, laringe e cavidade nasal e tem, em média, 80% de chances de cura em pacientes diagnosticados na fase inicial.
“Infelizmente, no Brasil, cerca de 76% dos casos só são diagnosticados em estágios avançados, o que dificulta o tratamento e eleva a taxa de mortalidade”, alerta a oncologista Paula Sampaio, do Centro de Tratamento Oncológico. Esses dados reforçam a importância do Julho Verde, mês mundial de conscientização sobre câncer de cabeça e pescoço.
A campanha foi criada em 2014, no 5º Congresso Mundial da Federação Internacional das Sociedades Oncológicas de Cabeça e Pescoço, com apoio da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da União Internacional para o Controle do Câncer.
No Brasil, o mês de julho foi oficialmente instituído como o Mês Nacional do Combate ao Câncer de Cabeça e Pescoço pela Lei nº 14.328, de 20 de abril de 2022.
“A campanha Julho Verde foi criada com o objetivo de motivar pessoas em idades com maior prevalência da doença (acima de 40 anos) a realizar exames específicos para detecção precoce da doença, o que aumenta muito as chances de cura”, explica a oncologista Paula Sampaio.
Incidência – O câncer de cabeça e pescoço atinge homens e mulheres em proporções parecidas no Brasil. A estimativa é de 19 mil novos casos em homens e 17 mil em mulheres, em 2022. O que muda, de acordo com o gênero, é a localização dos tumores: na mulher, o câncer de cabeça e pescoço mais frequente é o de tireoide, que, em 2022, deverá ter aproximadamente 11,2 mil novos casos. Entre os homens, os tipos mais comuns são os tumores de boca e garganta (cavidade oral e laringe). De câncer de boca serão 11 mil novos casos. De laringe, teremos aproximadamente 6.500 novos casos.
O câncer de cabeça e pescoço também é comum na pele da face, do pescoço, na faringe, nas glândulas salivares, nos seios paranasais e outros locais.
Diagnóstico tardio – O diagnóstico tardio, além de aumentar os índices de mortalidade, significa que o paciente poderá ter sequelas. “O câncer de cabeça e pescoço afeta diversas áreas e funções do corpo humano, como a respiração, fala, deglutição, paladar e olfato”, destaca a médica Paula Sampaio.
Fatores de risco – Cigarro, álcool e o vírus HPV estão no topo da lista dos causadores dos cânceres de cabeça e pescoço.
O perigo que esses dois vilões da nossa saúde (álcool e tabaco) representam, quando associados, é impressionante. Alguém que fuma e bebe tem chances até 20 vezes maiores de desenvolver algum tipo de câncer em regiões como boca, língua, palato, gengivas, bochechas, amígdalas, faringe, laringe, esôfago, tireoide e seios paranasais.
Apesar de atingir principalmente fumantes e pessoas que consomem bebidas alcoólicas, é cada vez mais frequente o diagnóstico da doença em indivíduos jovens, sem a exposição a esses fatores, com tumores originados pelo HPV.
O Ministério da Saúde estima que cerca de 7% da população brasileira, mesmo sem saber, podem ter o vírus HPV na boca. “Estudos recentes demonstram que a infecção oral pelo HPV é um fator de desenvolvimento do câncer de faringe e de boca. Uma das formas de contágio é por meio da prática do sexo oral sem proteção”, explica a médica Paula Sampaio.
Os pesquisadores do Centro de Controle e Prevenção de Doença dos Estados Unidos também confirmam que a maior incidência da doença pode estar ligada ao HPV. A expectativa é de que até 2030 o número de casos de câncer de boca relacionados ao vírus deve superar os casos ligados ao tabaco. Por isso, o papiloma vírus, popularmente conhecido como HPV, já é considerado um fator de risco que tem a capacidade de desenvolver um câncer em menos tempo.
Prevenção – O exame clínico do pescoço, feito por um médico, é muito importante, quando perceber alterações como feridas no rosto ou na boca que não cicatrizam, rouquidão ou mudanças na voz por mais de duas semanas, manchas vermelhas ou esbranquiçadas na boca, caroço no pescoço, dificuldade para mastigar ou engolir, irritação ou dor persistentes na garganta, perda de peso sem motivo aparente, mau hálito frequente e amolecimento dos dentes.
A higiene bucal é importante na prevenção. O dentista é um profissional com papel fundamental no diagnóstico precoce e deve ser visitado regularmente. O recomendado é procurar um dentista a cada seis meses para fazer profilaxia e avaliar a saúde bucal. O autoexame não deve ser preconizado como método preventivo, havendo o risco de mascarar lesões e retardar o diagnóstico do tumor. No caso do câncer de boca, o papel do cirurgião-dentista é importante porque pode garantir a identificação de lesões pré-cancerígenas ou tumores em fase inicial.
Fonte: Assessoria de Imprensa/CTO
Por Dina Santos