Especialmente para trabalhadores essenciais, como é o caso dos colaboradores de indústrias da cadeia do alumínio, a pandemia exige cuidados redobrados para que não se transmita o vírus durante os deslocamentos necessários ao trabalho. Mas esse estado constante de alerta, aliado às preocupações com a saúde de pessoas próximas, com a economia e a overdose de informações – sejam elas verdadeiras ou falsas -, criam um cenário favorável ao estresse e às doenças mentais.
Uma pesquisa realizada em 2020 pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em parceria com outras instituições, revelou que sintomas de ansiedade e depressão afetam 47,3% dos trabalhadores de serviços essenciais durante a pandemia no Brasil e na Espanha. Mais da metade deles sofre de ansiedade e depressão ao mesmo tempo e, além disso, 42,9% dos participantes sofreram mudanças nos hábitos de sono. Para alertar sobre a importância dos cuidados com a mente, empresas da cadeia produtiva do alumínio aderiram à campanha Janeiro Branco, trazendo dicas de saúde mental e hábitos saudáveis para colaboradores e comunidades do entorno.
A Alubar, empresa líder na América Latina na fabricação de cabos elétricos de alumínio, uma das maiores do continente na produção de vergalhões de ligas de alumínio e produtora de condutores de cobre, utilizou não apenas seus meios de comunicação interna, mas também as redes sociais para informar sobre boas práticas e sintomas de doenças mentais.
A campanha foi uma ação do Viva Bem, o Programa de Qualidade de Vida da Alubar, e a abordagem buscou informar aos colaboradores e seguidores da empresa como evitar que o estresse se torne prejudicial à qualidade de vida. A Médica do Trabalho da Alubar, Cristina Braga Palheta, explica que o estresse é considerado uma reação normal do corpo a situações adversas, mas há sinais que podem indicar algo mais grave. “O estresse se torna prejudicial à saúde quando passa a interferir na qualidade de vida da pessoa e nos seus relacionamentos interpessoais, quer seja no trabalho, em casa e em relacionamentos conjugais. Conflitos de forma mais frequente, reações desproporcionais ao evento e perda da qualidade do sono são sinais de que a pessoa deve procurar a ajuda de um psicólogo ou psicoterapeuta”, recomenda a médica.
Para o psicólogo organizacional Ederson Aquino, do Hospital de Porto Trombetas, gerido pela Mineração Rio do Norte (MRN) em parceria com a Pró-Saúde, os profissionais e as pessoas em geral precisam cuidar do seu bem-estar para não adoecer emocionalmente. “Cuidar da saúde mental é cuidar da conjuntura do ser humano. A negligência destes cuidados pode gerar outros problemas como doenças psicossomáticas”, explica.
Aquino reforça a necessidade das pessoas começarem a entender que a saúde mental é tão importante quanto a saúde biológica e orienta com dicas sobre como a pessoa pode garantir o seu bem-estar. “Permanecer conectada com outras pessoas, aproveitando recursos tecnológicos para não ficar sozinho, fazer exercícios físicos, adotar hábitos alimentares saudáveis, ter um bom ciclo de sono, e buscar ajuda profissional quando a tristeza for muito recorrente”, exemplifica.
O especialista relata que, dentro de grandes empresas, o gestor deve ter competência para também cuidar da saúde mental de seus liderados, observando o cotidiano dos colaboradores. “É preciso disseminar a empatia onde os colaboradores da mesma equipe consigam se reconhecer, identificar e perceber quando um colega de trabalho não está bem, que está com o comportamento diferente do normal, para ajudá-lo”, assinala.
Campanha criativa incentiva cuidados
Neste caminho, o Hospital de Porto Trombetas criou a campanha “Dê cor à sua vida”, em referência ao Janeiro Branco. “Como janeiro é o primeiro mês do ano, no qual as pessoas têm como cultura a reflexão replanejar a vida e metas, estamos utilizando uma árvore, símbolo do desenvolvimento do ser humano em nossa campanha. Montamos uma árvore grande, pintamos de branco e distribuímos aos colaboradores plaquinhas coloridas para que eles escrevessem os sonhos e objetivos que pretendem alcançar em 2021, pendurando-os na árvore. A proposta das mensagens nas plaquinhas é para que eles possam compartilhar seus objetivos e vir trabalhar por um propósito maior, para trazer a sensação de realização e meta alcançada”, relata.
O técnico de Laboratório Michel Ribeiro foi um dos profissionais de saúde que esteve na linha de frente durante o enfrentamento da pandemia no Hospital de Porto Trombetas. Ele comenta que o suporte psicológico contribuiu para ele conseguir manter o equilíbrio emocional nos momentos mais críticos. “Vivemos uma rotina bastante intensa de atendimentos e os bate-papos com o psicólogo do hospital contribuíram para conseguirmos cuidar da saúde mental”, declara.
Ribeiro comenta também que achou interessante a campanha “Dê cor a sua vida” porque ela estimula os profissionais de saúde a não só compartilhar seus sonhos, mas a conquistá-los. “Quando materializamos no papel sonhos, como concluir a faculdade ou comprar uma casa, vejo como um incentivo para a gente realizar”, avalia.
Por – Jobson Marinho
Temple Comunicação
