04 de fevereiro – Dia Mundial de Combate ao Câncer
Técnica permite que o paciente fique acordado durante retirada de tumor no cérebro
Nesta terça-feira, 4, é o Dia Mundial de Combate ao Câncer. Entre os muitos tipos da doença, o câncer cerebral é um dos mais temidos por conta da alta letalidade, principalmente quando é um tumor agressivo ou quando é diagnosticado em estágio avançado. Mas a medicina também tem avançado em técnicas de tratamento para diversos tipos de tumores cerebrais.
Um bom exemplo é a awake surgery, como é chamada a técnica em que o paciente é mantido acordado e consciente, enquanto é submetido a uma cirurgia no cérebro. Apesar de não ser uma técnica nova (já é utilizada há cerca de 30 anos pela medicina), ainda é pouco conhecida pela população em geral.
A metodologia é impressionante, não só pelo fato do paciente ficar acordado, mas também porque ele pode realizar algumas ações para orientar o médico durante o procedimento cirúrgico, como falar, ler, pintar, cantar, realizar cálculos e até mesmo tocar um instrumento.
Os gestos ajudam o médico a preservar a função da área do cérebro onde a doença está localizada. Por exemplo: se for em uma área ligada à função motora, o paciente realizará movimentos durante a cirurgia. A vantagem da awake surgery é que ela possibilita que se preserve ou haja menos danos às funções cerebrais, pois os médicos são guiados pelas reações do paciente durante a cirurgia.
O neurocirurgião José Cláudio M. Rodrigues, especialista em neurocirurgia oncológica, foi o primeiro médico a realizar esse tipo de cirurgia no Norte/Nordeste do país, há cerca de 10 anos. Ele conta que o paciente atendido era músico e que precisou tocar violão durante o procedimento.
“Quando a gente tocava em determinada área do cérebro dele, o paciente errava alguma nota, então, sabíamos que ali não poderíamos mexer.”, relembra.
Atualmente, ele realiza a cirurgia em diversos hospitais de Belém, inclusive pelo SUS. Ele assegura que a maioria dos pacientes são elegíveis para esse tipo de cirurgia.
“Antes do procedimento, nós conversamos com o paciente, explicamos como será a cirurgia, o acalmamos e, assim, é possível realizar a cirurgia, até porque ele não sentirá dor.”, destaca.
A preparação do paciente é da seguinte forma: ele é sedado e fica inconsciente. Neste momento, o neurocirurgião faz a abertura do crânio e em seguida, para iniciar a cirurgia, acorda o paciente, e realiza os testes para saber quais as áreas mais sensíveis onde está localizado o tumor ou outra lesão.
É importante ressaltar que o paciente fica acordado mas não pode movimentar a cabeça, por isso, ela fica presa na mesa cirúrgica para evitar qualquer prejuízo à operação.
Vale destacar que, nesse tipo de cirurgia, o neurocirurgião e sua equipe precisarão contar ainda com a presença de outros especialistas, como um neurofisiologista para monitorar as funções cerebrais do paciente, e um neuropsicólogo que vai interagir com o paciente durante o procedimento.
Além disso, o anestesista tem papel crucial, por isso precisa ser muito bem treinado para agir com habilidade nas intervenções que sejam necessárias.
Por que o paciente não sente dor?
O neurocirurgião explica que, apesar do cérebro informar dor em outras partes do corpo, o tecido cerebral não possui receptores de dor. É por isso que, durante a cirurgia, o paciente pode sentir um pouco de pressão ou vibração, mas não dor.
A anestesia, no caso, é utilizada no músculo, pele e ossos, estruturas que são cortadas pelo neurocirurgião para poder realizar a cirurgia no cérebro.
Fonte: Norte Comunicação por Iva Muniz