Com desfile na Ilha do Marajó é lançada a coleção de moda autoral
Iniciativa faz parte das ações do Polo de Moda do Marajó; evento também será realizado em Belém, no próximo dia 30
Camisas, vestidos, moda praia, chapéus e outros acessórios são algumas peças da coleção de moda autoral ‘Cápsula Marajó’, lançada nessa quarta-feira (17), em um desfile realizado no Instituto Caruanas do Marajó, no município de Soure, localizado na região dos campos marajoaras. A iniciativa marca a divulgação dos primeiros resultados do trabalho que vem sendo desenvolvido no Polo de Moda Marajó, criado em 2023.
Ao ritmo do grupo de tradições marajoaras Os Aruãs, os modelos entraram na passarela com peças inspiradas na tradicional camisa com grafismo marajoara, que atravessa o tempo graças ao talento de bordadeiras desse traço característico da cultura da ilha.
“É uma grande satisfação ver esse trabalho, que alavanca o comércio local, em especial os pequenos negócios”, disse o presidente do Conselho Deliberativo Estadual do Sebrae/PA, José Conrado.
“Desde o ano passado, estamos capacitando os empreendedores do segmento da moda para aproveitarem as oportunidades com a COP 30, e esse trabalho no Marajó é uma das ações. Sem dúvida, é um marco histórico para os marajoaras e para a região”. Rubens Magno, diretor-superintendente do Sebrae/PA,
“Foi além das nossas expectativas. O empreendedorismo local é algo importante, gera emprego e renda para os nossos cidadãos”, disse o prefeito de Soure, Carlos Augusto Gouvêa (Guto).
Guto ressaltou a importância da preparação do grupo. “Tivemos capacitações, valorizando as nossas costureiras, com o intuito que elas tenham um aumento na renda delas, além da valorização da cultura e arte do Marajó”, pontuou o prefeito.
“Os paraenses e marajoaras precisam mostrar o que acontece aqui para o mundo. Para o ano que vem, que tem a COP 30, nós precisamos nos preparar e mostrarmos a cultura e as potencialidades do Marajó. Esse desfile tem uma proposta que pode ter um alcance internacional”, disse o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Pará (Faepa), Carlos Xavier.
O diretor regional do Senai/PA e superintendente do Sesi/PA, Dário Lemos, destacou o trabalho da instituição na região. “O Senai já vem, há alguns anos, atuando no Marajó com ações para melhorar os índices educacionais da região por meio da educação profissional e, junto com o SESI, também na educação básica. Esses cursos que estamos desenvolvendo em Soure, por meio da Unidade Móvel de Confecção, é mais um esforço para potencializar a geração de emprego e renda no Marajó”, frisou Dário.
O Coletivo Sebrae comandado pelo grupo de mulheres que participam do projeto do Polo de Moda do Marajó mostrou ao público do desfile todo o talento das empreendedoras.
Também foram apresentados os trabalhos das marcas Madame Floresta, Cañybó, Art Ancestral, Seiva Amazon Design, Isabela Sales Design, Mãos Caruanas, Val Valadares, Amazônia Zen e Ná Figueredo, foram as marcas autorais de Soure e Belém que apresentaram suas produções no Desfile.
Franci Nunes, do ateliê Amarajó, que faz parte do Coletivo, falou sobre como foi ver a peça produzida pelo grupo de mulheres no desfile de lançamento da coleção. “Esse evento é essencial para nós, que somos alunas do curso de capacitação do Polo. É algo diferente”, observou.
“Muitas de nós já sabíamos costurar, mas não tínhamos técnica. Agora estamos aprendendo a fazer algo refinado, uma costura mais limpa e que até mesmo a gente se surpreende com esse desfile, para o qual fomos instigadas a produzir uma peça e trazer uma mostra do nosso trabalho”, comenta Franci.
“Para nós, foi algo grandioso, demos tudo de nós. Deu para perceber que somos muito criativas e fazer parte desse desfile é um grande reconhecimento para cada uma mulher empreendedora. Nós deixamos de ser apenas costureiras. Agora, somos artistas que criam peças”, finaliza Franci.
Graça Arruda, da Madame Floresta, empreendimento de Belém, enfatizou a parceria das empreendedoras e marcas de Belém e Soure e comentou sobre a expectativa para o desfile que irá ocorrer na capital paraense.
“É muito importante essa mistura Belém com Marajó. Esse desfile está sendo muito emocionante e familiar, no meio da floresta, da cultura. Para onde olhamos temos uma obra de arte, seja do ramo da moda, como também do artesanato. É um evento inovador. A expectativa para o desfile de Belém é grande, será um outro público e estamos produzindo mais para atender o público de Belém”.
Neide Souza, presidente da Associação Educativa Rural e Artesanal da Vila de Joanes (Aeraj), achou o evento inovador na região. “Para nós, isso aqui está sendo algo inovador. Sempre tínhamos que sair daqui para expor os nossos produtos em Belém e, hoje, estamos expondo aqui no Marajó. Eu trouxe alguns produtos para vender, está vendendo bem e espero que além desse evento, venham outros para divulgarmos o nosso Marajó e tramas marajoaras que fazem sucesso por onde passa”.
Dona Cruz, a bordadeira mais antiga de Soure, conhecida pelo seu bordado galão, uma técnica diferente do bordado em ponto e cruz, revelou estar bastante emocionada com o momento de visibilidade para cultura marajoara e as empreendedoras da região. “Fico até sem palavras para falar sobre esse evento. É um momento de visibilidade muito grande para as nossas peças, para as empreendedoras e para a cultura marajoara. Para mim, esse evento é um momento de felicidade”, resumiu ela, que já bordou roupas para o governador do Pará.
De acordo com Josie Lima, diretora do Instituto Caruanas do Marajó e designer da empresa Mãos Caruanas, a iconografia marajoara teve o poder de reconstruir a história de um povo mesmo após a sua extinção.
“A iconografia marajoara foi capaz de trazer todas as informações possíveis da sociedade. Por meio da cerâmica, por exemplo, foi possível descobrir hábitos de caça, organização social, rituais funerários sofisticados, animais mitológicos de poder e técnicas ceramistas que até hoje são utilizadas. Trata-se de uma cerâmica interativa e uma iconografia extremamente complexa, carregada de significados”.
São quase 4 mil anos de ocupação na ilha, classificadas em cinco fases de acordo com a produção ceramista: Ananatuba, Formiga, Mangueiras, Marajoara e Aruã. A fase mais rica da ocupação desta civilização foi a fase Marajoara que durou de 350 a 1350 D.C.
O Polo de Moda do Marajó foi criado a partir de um acordo de cooperação assinado pelo Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas no Pará (Sebrae/PA), Governo do Estado, Prefeituras de Soure e Cachoeira do Arari Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) e Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) durante a inauguração da Agência Sebrae COP 30, que funciona em Belém, em agosto do ano passado.
O Polo tem o objetivo desenvolver a produção de moda artesanal local, utilizando referências culturais da arte marajoara, fomentar nos produtores locais a visão empreendedora para a fabricação de produtos criativos, agregando inovação, tecnologia e sofisticação, gerando valor, volume de produção e novas oportunidades de geração de emprego e renda.
Quarenta e oito empreendedoras de Soure já foram capacitadas para a produção das peças e em gestão financeira, que preparou as mulheres para formar preço e lidar com as finanças do negócio.
Além de Soure, Cachoeira do Arari, outro município que integra os campos marajoaras, faz parte da abrangência do projeto, onde um grupo de mulheres também passará por capacitação, com início das atividades no próximo mês de maio.
Fonte: Agência Sebrae de Notícias Pará