Venda do tucupi, iguaria do almoço do Círio, ajuda no desenvolvimento da agricultura familiar em Barcarena
O tucupi, líquido amarelado, é harmonizado com diversos tipos de pratos tradicionais do almoço do Círio, como o pato no tucupi, arroz paraense e tacacá. O tucupi, um molho tradicional da região Norte do país, é extraído da mandioca brava (Manihot esculenta Crantz). Adorado pelos paraenses, a iguaria conquista cada vez mais paladares dentro e até fora do Brasil, pois encanta pelo aroma, pelo sabor único e ácido.
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Essa atividade de obtenção do tucupi é considerada difícil e trabalhosa, por conta de todas as etapas necessárias. Apesar de existirem equipamentos mecanizados, elas são feitas na maioria das vezes de forma manual. A mandioca é descascada, ralada e prensada. O caldo remanescente é separado do amido por meio da decantação. Como nessa variedade da mandioca o sumo é considerado venenoso, devido a um composto presente na mandioca brava, chamado de ácido cianídrico, o tucupi precisa ser fervido por, pelo menos, vinte minutos antes de ser consumido com ervas regionais e pimenta de cheiro.
Segundo o nutricionista Leandro Leal, além dos benefícios gastronômicos, o tucupi tem vantagens nutricionais: é fonte de vitamina A e tem uma quantidade significativa de antioxidantes. Além de tudo, é um ingrediente com baixas calorias: cerca de 36 kcal para cada 100 g. “Por ser um alimento rico em carboidratos, é interessante associar seu consumo com alimentos fontes de fibras. O nosso tradicional pato no tucupi com jambu é uma pedida nutritiva e equilibrada para o almoço do Círio, que repõe as energias perdidas na procissão. É importante que o local da compra seja de confiança e obedeça a todos os processos de preparo do tucupi, como a fermentação, higiene e atenda às regras da Vigilância Sanitária”, esclarece Leandro.
O tucupi tem muita tradição, vinda dos povos indígenas que o inventaram e popularizaram, mas também muita pesquisa. Os cientistas da Embrapa trabalham na identificação e melhoramento genético da mandioca, no desenvolvimento de sistemas de produção mais eficazes, em coprodutos para agregar valor e gerar renda aos agricultores, e, com isso, ampliar o acesso aos diversos mercados consumidores.
Em Barcarena, a Hydro incentiva a agricultura familiar da produção do tucupi, por meio dos Projetos Ativa Barcarena e Tipitix, sendo o Tipitix financiado pelo Fundo de Sustentabilidade Hydro e a Fundação Mitsui, e ambos executados pelo Instituto Peabiru.
No Tipitix, lançado em março de 2021, já foram produzidos 448 quilos de produtos beneficiados a partir da mandioca. Esta produção engloba farinha de mandioca grossa, farinha de tapioca, farofa temperada e macaxeira a vácuo. No lançamento do segundo ciclo do projeto, em novembro de 2021, o leque de produtos foi ampliado com a inclusão de tucupi, brigadeiro e pão de queijo de macaxeira.
Os agricultores recebem suporte em assessoria técnica na adequação de seu modelo de negócio; infraestrutura para o beneficiamento de sua produção; apoio em design, crédito e assessoria comercial para colocar o produto e/ou serviço no mercado; assim como suporte administrativo e contábil para os procedimentos referentes à formalização e gestão do negócio.
Já o projeto Ativa Barcarena, iniciado em 2018, valoriza a agricultura familiar e a produção sustentável de alimentos para fomentar o desenvolvimento de um sistema agroalimentar local. O programa oferece assistência técnica rural gratuita e capacita produtores familiares, na organização da rede de atores produtivos e na promoção de produtos com identidade local.
Em 2022 estão sendo beneficiados 91 agricultores de 34 comunidades rurais e das ilhas do município de Barcarena. Desde o início das atividades, participaram 392 famílias de agricultores, resultando em mais de 1.500 pessoas beneficiadas pelo projeto.
Tucupi fortalecendo a agricultura familiar
Uma das beneficiárias é a Raquel Rodrigues Mendes, participante do projeto Ativa Barcarena e selecionada para participar do 2º ciclo do Tipitix. “Minha mãe já trabalhava na roça com plantio de mandioca. Adquiri dela todo o conhecimento para trabalhar com o tucupi e algumas técnicas do projeto do Ativa, que me proporcionam sustentar minha família com a venda do produto nas feiras”, relata Raquel, que com o apoio criou a marca Raiz da Mata.
Com a proximidade do Círio, a sua produção aumentou, passando de 800 litros de tucupi produzidos mensalmente para 1.500 litros. “Essa época sempre foi muito boa para nós, as encomendas aumentam e, agora, com a produção em grande escala por conta dos apoios recebidos da Hydro, nossa renda aumentou e podemos oferecer um produto de melhor qualidade ao consumidor. Eu e minhas filhas vivemos só da produção do tucupi e ele faz parte da vida do paraense”, conta Raquel.
Fonte: InPress/Porter Novelli
Por Rosana Pinto